Ave, Allan Kardec!

25/04/2024

 

Irmão Saulo*

Não houve e ainda não há entre os espíritas alguém que tenha sofrido mais o escárnio e a peçonha dos inimigos da Luz do que o próprio Codificador. O seu foi o cálice da amargura e do desrespeito, da injustiça e das calúnias, da incompreensão e da maledicência, da traição e da ingratidão.

Homem de hábitos puros e moral elevada, invariavelmente preocupado com o bem-estar daqueles a quem servia em seu trabalho como professor e educador, bem como posteriormente a toda a humanidade, dando provas da sua convicção espírita, após o conhecimento da revelação dos postulados da Doutrina. Foi atacado em sua moral, em sua conduta profissional, em sua capacidade intelectual, em suas virtudes fraternais, em seus objetivos superiores de vida.

Repetidas e frequentes foram as ocasiões em que se viu forçado a sorver daquele amargo cálice que lhe serviam os seus inimigos, ou melhor, os inimigos das ideias espiritistas. Raro era o dia em que não recebia a notícia de alguma injúria que lhe era assacada, a despeito de nunca haver revidado as ofensas pessoais, exceto se viessem a macular a arquitetura doutrinária do Espiritismo, a que se propunha servir e o fazia com o mais desvelado e admirável amor.

Foi prejudicado, inclusive materialmente, nas possibilidades de desempenho profissional, após a Codificação. Muitos foram os instantes em que, de coração opresso, teve de sufocar as descargas emocionais naturais ante tantos bombardeios. Mas sempre o conseguiu, posto que sua fé e sua capacidade de abstrair-se aos problemas, elevando-se às mais altas regiões, bem como a sua compreensão do tipo de mundo em que estava destinado a trabalhar, assim o permitiram.

Mas, indiscutivelmente – admitia –, as dores mais profundas e pungentes sempre foram aquelas provocadas pelos próprios confrades, seus companheiros, os que aceitavam a mensagem espírita e o acompanhavam pari passu nas atividades. Foi acusado de prepotência, de arrogância, de vaidade, de egoísmo, sempre que teve de alertar os companheiros para a necessidade de um movimento espírita organizado; sempre que assinalou os perigos do personalismo; sempre que cuidou de ocupar os espaços que seus contemporâneos, por inércia e omissão, deixavam vazios e com potenciais de fracasso… Até mesmo quando do discurso por ocasião do seu passamento, entremeado aos elogios e aos encômios, Camille Flamarion, nas entrelinhas, o adjetivava de personalista…

O tempo passou e ele continua a ser caluniado, incompreendido, desvalorizado e desconsiderado em sua obra magnífica, por adeptos e não adeptos.
O gigante solitário da rua dos Mártires, agora na companhia do Espírito de Verdade, cuida carinhosamente da Doutrina que gestou e ajudou a materializar no mundo terreno, lançando de seu coração amoroso a chama dos sentimentos mais sublimados na direção de todos os que o acusam e menosprezam.

Allan Kardec, nós os teus discípulos e seguidores mais humildes, reconhecidos saudamos-te!

Ave, Allan Kardec!

(*) Página psicografada por Francisco Cajazeiras, do livro “Conselhos Mediúnicos”, Ed. EME.